O movimento “looksmaxxing” – termo que define a maximização da aparência física – emergiu como uma das tendências mais controversas do marketing digital moderno.
Esta prática, que combina estratégias de autoaperfeiçoamento com algoritmos viciantes de redes sociais, revela como o marketing pode se transformar em uma ferramenta perigosa quando não há responsabilidade ética.
Vamos entender melhor esse conceito e no final você tira suas próprias conclusões.
A Anatomia de um Fenômeno Viral
O looksmaxxing funciona como um funil de conversão perfeito, começando com conteúdo aparentemente inofensivo sobre cuidados básicos de higiene – o chamado “softmaxxing”.
Jovens insatisfeitos com sua aparência são atraídos por vídeos no TikTok que prometem transformações através de práticas como “mewing” (exercícios com a língua para definir a mandíbula) e rotinas de skincare.
Na minha experiência analisando campanhas de marketing digital para o setor de beleza, observei que o mercado brasileiro movimenta mais de R$ 30 bilhões anuais neste segmento.
O que diferencia o looksmaxxing é sua capacidade de transformar inseguranças pessoais em oportunidades comerciais através de algoritmos precisos.
O Lado Sombrio das Estratégias de Engajamento com Looksmaxxing
O verdadeiro problema surge quando o “softmaxxing” evolui para o “hardmaxxing” – práticas extremas que incluem uso de esteroides, cirurgias plásticas e até mesmo “bone-smashing” (quebrar ossos faciais com martelos).
Influenciadores monetizam essas tendências promovendo produtos que vão desde cremes clareadores até equipamentos de alargamento peniano.
Um exemplo prático dessa exploração pode ser visto no caso de um adolescente de 16 anos que, após ser exposto ao conteúdo de looksmaxxing por três meses, desenvolveu dismorfia corporal e gastou mais de R$ 15.000 em produtos “milagrosos” promovidos por influenciadores.
Este cenário ilustra como estratégias de marketing de influência mal direcionadas podem causar danos psicológicos reais.
A Máquina de Receita por Trás da Insegurança
A indústria do looksmaxxing opera em múltiplas camadas de monetização. Primeiro, criadores de conteúdo ganham através de visualizações e engajamentos nas redes sociais. Segundo, eles promovem produtos de afiliados, desde cosméticos até suplementos questionáveis. Terceiro, vendem cursos e consultorías personalizadas prometendo “transformações garantidas”.
Dados da Semrush mostram que o site looksmax.org recebe 2,77 milhões de visitas mensais, com o Brasil representando 7,28% desse tráfego.
Para contextualizar, isso equivale a aproximadamente 201 mil brasileiros mensalmente consumindo este tipo de conteúdo, gerando uma receita estimada em milhões de reais para a indústria.
Conexões Perigosas com a Manosfera
O looksmaxxing não é apenas sobre beleza – suas raízes estão profundamente conectadas com comunidades “incel” (celibatários involuntários) e a “manosfera” (um conjunto de comunidades online que discutem temas masculinos, muitas vezes abordando masculinidade, relacionamentos e papéis de gênero sob diferentes, e por vezes controversas, perspectivas).
Um exemplo concreto dessa conexão aparece quando jovens são direcionados de vídeos sobre “melhorar a mandíbula” para fóruns onde mulheres são culpadas por seus problemas de autoestima. Esta progressão não é acidental, é uma estratégia calculada de funil de marketing que explora vulnerabilidades emocionais.
A Responsabilidade das Plataformas Digitais
As plataformas de mídia social têm falhado sistematicamente em moderar conteúdo de looksmaxxing perigoso. Algoritmos são programados para maximizar engajamento, não bem-estar. Isso cria um ciclo vicioso onde conteúdo mais extremo gera mais visualizações, levando a uma espiral de radicalização.
Um exemplo prático disso foi é de um usuário que assiste a um vídeo sobre exercícios faciais que pode rapidamente ser direcionado para conteúdo sobre cirurgias plásticas extremas em questão de dias.
Esta progressão algorítmica não é um acidente, é o resultado de sistemas de recomendação otimizados para receita publicitária, não para saúde mental.
| Métrica | Looksmax.org | Impacto no Brasil |
|---|---|---|
| Visitas mensais | 2,77 milhões | 201 mil brasileiros |
| Tempo médio de sessão | 13:31 minutos | Alto engajamento |
| Taxa de rejeição | 34,96% | Conteúdo viciante |
| Crescimento mensal | +10% | Expansão acelerada |
Estratégias Éticas de Marketing para Beleza
Para profissionais de marketing digital trabalhando no setor de beleza, é crucial desenvolver estratégias que promovam bem-estar genuíno. Isso inclui:
- Parcerias com microinfluenciadores autênticos que promovem autoaceitação
- Conteúdo educativo sobre cuidados básicos de saúde e higiene
- Transparência sobre limitações e expectativas realistas de produtos
- Campanhas que celebram diversidade corporal e saúde mental
Um case de sucesso é a estratégia da Men’s Market, que cresceu de 2 para mais de 80 marcas focando em educação sobre produtos masculinos, não em promessas irreais.
Principais riscos do looksmaxxing extremo:
- Desenvolvimento de dismorfia corporal em jovens
- Gastos excessivos em produtos não testados
- Radicalização através de comunidades tóxicas online
- Normalização de procedimentos perigosos sem supervisão médica
- Criação de padrões de beleza inalcançáveis e prejudiciais
O que penso sobre Looksmaxxing e o custo real da beleza no marketing digital?
Eu penso que o looksmaxxing representa mais que uma simples tendência de beleza, é um sintoma de como o marketing digital pode ser utilizado para explorar vulnerabilidades humanas.
Enquanto o mercado de beleza continua crescendo legitimamente, precisamos questionar se estamos construindo uma indústria que realmente serve aos consumidores ou apenas aos algoritmos.
A verdadeira transformação não vem de martelos quebrando ossos ou cremes milagrosos, vem de uma indústria que escolhe responsabilidade sobre receita.
Como profissionais de marketing, temos o poder de moldar não apenas comportamentos de compra, mas a saúde mental de gerações inteiras. A pergunta que fica é: que legado queremos deixar?