É, o carro está virando o novo smartphone, e não estou falando só do tamanho da tela. Essa história de monetização das telas nos carros a partir de 2026, como andam dizendo por aí, é só a ponta do iceberg de uma mudança muito mais profunda no jeito que a gente compra, usa e se relaciona com o automóvel.
Pra quem vive o digital, isso não é novidade, claro. A gente já paga pra tirar anúncio de streaming, assina plano premium no app e por aí vai. O que muda é que essa lógica agora está entrando no mundo físico, em um bem que, teoricamente, já pagamos uma fortuna pra ter.
O carro como um software que nunca é seu de verdade
O que a gente está vendo, e que vai acelerar muito com essa monetização, é o carro deixando de ser um produto fechado, com 100% das suas funcionalidades liberadas na chave, pra virar uma plataforma de serviços.
Pensa bem, você compra o hardware (o carro por R$120 mil, por exemplo), mas o software, as melhores funções, ficam travadas esperando você pagar de novo.
Eu acho que o exemplo mais chocante, e que a BMW já está flertando, é a ativação de recursos por assinatura ou compra avulsa.
Imagina o seguinte cenário: você pega seu carro novinho, mas pra usar o aquecedor de bancos – algo que o carro já tem o hardware instalado – você precisa ir na tela multimídia, comprar o recurso e a montadora manda um comando pra liberar. É ridículo, mas é real.
O que mais pode entrar nessa lista?
- Assistentes de condução avançada (aquele piloto automático que freia e volta sozinho na faixa) podem virar um “pacote de segurança premium” anual, ou um extra pago só pra aquela viagem longa que você vai fazer nas férias. O hardware está lá, a montadora só segura a liberação.
- Melhorias de desempenho em carros elétricos ou híbridos também são uma mina de ouro. A montadora pode vender um carro com um certo limite de potência, mas oferecer um “boost” de cavalaria extra, temporário ou permanente, cobrando uma taxa pelo upgrade do software que controla o motor.
É o conceito de “carro como software” levado ao extremo. O valor não está só no metal e no plástico, mas no código que corre por dentro.
A Publicidade Invade Seu Painel Digital
A outra face dessa monetização é a publicidade dentro do carro, que as montadoras, como a Ford com suas patentes, estão de olho.
Sinceramente, a ideia de ter um outdoor piscando no meu painel, me oferecendo o café da próxima esquina, ou o posto de gasolina que não é o meu preferido, enquanto estou dirigindo, me parece o ápice da distração desnecessária.
A corrida agora é para gerar uma nova receita pra montadora, e quem sabe até baratear o carro na ponta pra compensar (eu duvido muito, mas ok).
Eles mencionam que quem não quiser ver os anúncios pode pagar uma taxa mensal, tipo um YouTube Premium veicular.
O dilema aqui é: você vai pagar para não ser incomodado em um bem que já é seu? Isso inverte a lógica do consumo.
Antes, você comprava a coisa e ela era sua. Agora, você compra a coisa e depois tem que pagar para desativar as “funcionalidades de receita” que eles embutiram.
No fim das contas, a gente precisa começar a encarar esses carros de 2026 em diante não como “o meu carro”, mas como “o carro que eu aluguei para usar por um tempo”, onde até a temperatura do banco é controlada pela sede de lucro da montadora.
É um caminho sem volta, e quem não tiver repertório pra entender essa nova dinâmica vai ser pego de surpresa na hora de pagar a próxima fatura de “acessórios” que já estavam lá.
Perguntas que a gente tem que se fazer sobre carros conectados e monetizados
Se eu vender o carro, os pacotes de assinatura que eu comprei vão para o novo dono?
Essa é uma ótima pergunta, porque no mundo do software, a licença é pessoal. No caso do carro, provavelmente as ativações permanentes (tipo a potência extra) ficam com o veículo, mas as assinaturas mensais ou anuais (o pacote de condução autônoma, por exemplo) vão ser suspensas, e o novo dono terá que reativar o serviço no nome dele. Isso pode até afetar a revenda, dependendo de quantos “recursos” o carro tem desativados.
Essa publicidade na tela vai ser regulamentada para não causar acidentes?
Olha, deveria, né? A distração ao volante já é um problema sério, e colocar anúncios piscando na central multimídia, no campo de visão periférica do motorista, é pedir para aumentar o risco. Acredito que a segurança deve ser o primeiro ponto de regulamentação, garantindo que o tipo, frequência e momento dos anúncios não comprometam a atenção. Se não vier por lei, vai ter que vir por muita pressão de órgãos de segurança.