Sabe aquela sensação de que, de uma hora para outra, todo mundo no Instagram virou especialista em alguma coisa? Pois é, parece que a conta dessa “expertitise instantânea” finalmente chegou para os influenciadores sem diploma.
Eu sempre bato na tecla de que o digital é uma terra de oportunidades incríveis, onde qualquer um pode pegar um celular e construir um negócio. Mas tem uma linha tênue – e perigosa – entre compartilhar uma experiência pessoal e dar conselhos técnicos que podem ferrar com a vida de alguém.
A novidade que está rolando agora, e que me chamou a atenção, é uma movimentação jurídica para colocar um freio na galera que atua em áreas regulamentadas sem ter o tal do diploma. Estamos falando de nutrição, educação física, medicina e até investimentos.
O cenário é clássico. Você abre o feed e vê um influenciador com o corpo trincado vendendo um protocolo de dieta ou treino. A pessoa tem milhões de seguidores, fala bem, tem carisma. O problema? Ela não estudou fisiologia, não entende de metabolismo e está prescrevendo algo baseada apenas no “comigo funcionou”.
Isso sempre foi uma zona cinzenta, mas agora existe um Projeto de Lei proíbe influenciadores digitais de divulgarem conteúdos sobre temas que demandem conhecimento especializado e que possam representar risco para seus seguidores – apresentado pelo Deputado Vicentinho Júnior (PP/TO) – querendo criminalizar essa conduta de forma mais dura.
A ideia é clara: se a profissão exige registro em conselho de classe (tipo CRM, CREF, OAB), o influenciador não pode sair por aí dando “dica profissional” como se fosse autoridade no assunto.
O impacto no mercado digital
Para quem trabalha sério com negócios online, isso é um divisor de águas.
Eu vejo muita gente preocupada, achando que é o fim da liberdade de expressão na internet. Mas, analisando friamente, é um amadurecimento necessário do mercado. A internet não pode ser um escudo para o exercício ilegal da profissão.
Isso separa quem tem autoridade de quem tem apenas audiência.
Ter audiência é ótimo para vender, claro. Mas quando você vende um infoproduto ou uma mentoria na área da saúde, por exemplo, você está lidando com a integridade física do seu cliente. Se você não tem a base técnica, é uma bomba-relógio.
O que muda na prática
Se essa regulamentação pegar tração mesmo, a gente vai ver uma mudança no tipo de conteúdo:
- Relato x Prescrição: O influenciador vai poder continuar mostrando o que ele come? Provavelmente sim. Mas ele não vai poder dizer “comam isso para curar tal doença” ou montar cardápios personalizados. É a diferença entre mostrar a rotina e prescrever conduta.
- Parcerias mais fortes: Isso deve forçar os influenciadores a se associarem a profissionais reais. Em vez do blogueiro lançar o “Método Seca Barriga” sozinho, ele vai ter que trazer um nutricionista para assinar o produto. O que, na minha visão, é muito melhor para todo mundo. O produto ganha qualidade e o cliente ganha segurança.
Não acho que o diploma seja a única medida de competência no mundo dos negócios. Tem muito moleque de 19 anos dando aula de tráfego pago melhor que professor de MBA. Marketing, vendas, design – são áreas onde o portfólio manda mais que o papel.
Mas quando entramos em áreas onde o erro pode mandar alguém para o hospital – ou limpar a conta bancária de uma família com dicas financeiras irresponsáveis -, o buraco é mais embaixo.
A responsabilidade das plataformas
Outro ponto que pouca gente fala é o papel das redes sociais nisso. Hoje, o algoritmo entrega o que retém atenção, não o que é verdade. Uma dica de saúde absurda e polêmica viraliza muito mais rápido que uma explicação científica ponderada.
Se a lei apertar para o criador de conteúdo, as plataformas também vão ter que rever como moderam isso. Ninguém quer ser cúmplice de um crime de saúde pública.
Para quem está construindo um negócio digital hoje, a lição que fica é: construa sobre a rocha, não sobre a areia. Se o seu modelo de negócio depende de você fingir ser algo que não é, ele já nasceu com data de validade.
A busca por credibilidade vai valer muito mais que o número de likes. Quem tiver formação real ou souber se cercar de quem tem, vai nadar de braçada. Quem viver de aparência e dicas rasas perigosas, vai ter que se reinventar ou lidar com processos.
O jogo está ficando profissional de verdade. E para quem trabalha direito, isso é uma excelente notícia.