O “prompt-coder” está convencido de que vai criar o novo Netflix com IA, mas por que a maioria dos adeptos do Dev Vibe Coding bate no muro técnico cedo? Entenda o dilema do “não saber que não se sabe”.
Eu tenho visto isso acontecer demais ultimamente, especialmente agora que a Inteligência Artificial virou essa máquina de gerar código que, sejamos sinceros, é impressionante.
O sujeito que nunca abriu um terminal, nunca precisou lidar com um merge conflict no Git ou sequer entendeu a diferença entre front-end e back-end, agora está lá, convencido de que vai criar o novo Netflix.
O cara nunca escreveu um CRUD simples do zero, mas está vendendo a ideia de um marketplace global com geolocalização e integração de pagamento complexa. É a febre do Dev Vibe Coding.
O problema não é a ferramenta, claro, mas a confiança desproporcional que ela gera.
Eu penso que o cerne da questão é o que a gente chama de incompetência inconsciente ou, de um jeito mais popular, eles não sabem que não sabem.
A ferramenta de IA te dá a primeira linha, o esqueleto, o código que “parece” certo, e aquilo alimenta uma ilusão de onipotência. Ele olha o resultado inicial, o código bonitinho gerado, e pensa: “Pronto, 80% feito”. O que ele não entende é que o 80% invisível do software é onde o bicho pega de verdade.
O Código Perfeito não Pensa na Escalabilidade
A vida real do desenvolvimento é chata. É debugar por quatro horas um erro de sintaxe que era uma vírgula perdida. É fazer a integração com o gateway de pagamento que tem uma documentação de 1998, sem falar em ter que garantir que, quando 10 mil pessoas logarem ao mesmo tempo, o banco de dados não exploda.
Isso não tem prompt que resolva, porque exige repertório, exige a vivência de quem já quebrou a cara e sabe onde estão os buracos.
E é aí que a marra do Dev Vibe Coding bate no muro técnico. É cedo, muito cedo.
Eles chegam em um ponto onde o código precisa de uma customização complexa, o banco de dados começa a dar gargalo, ou a tal da API externa simplesmente não conversa com o código gerado.
O prompt gera a função, mas não gerencia o estado da aplicação, entende, não pensa na segurança, não cria a arquitetura que vai te permitir escalar de 10 para 1 milhão de usuários. Aquele projeto que parecia 50% pronto com a IA, na verdade, estava em 2%.
Nesse momento, o caminho se bifurca, e eu já vi essa história se repetir infinitas vezes.
Ou a pessoa desiste, frustrada por ter batido na barreira da complexidade real, ou ela tem a humildade de entender que precisa sentar e aprender o básico de lógica de programação e estrutura de dados (o que leva tempo, obviamente), ou, e essa é a rota mais comum para quem tem pressa, ela acaba precisando contratar um desenvolvedor de verdade.
O profissional que sabe que código não é só o que a máquina escreve, mas a soma de decisões, experiência e gerenciamento de problemas.
É uma lição valiosa. A tecnologia acelera o processo, sim, mas ela não substitui o conhecimento ou a bagagem que você adquire apanhando do código.
Entenda que, o novo Uber não vai nascer de um prompt, ele vai nascer da mão na massa de alguém que entende as entranhas do sistema.